segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

24º dia - 25.01.2014 - Em casa, missão cumprida. Muito feliz!

Buenas, pessoal!
Não conseguia conter minha ansiedade hoje de manhã, em Guaíba, enquanto "arrumava as malas" para percorrer o último trecho nesta inesquecível viagem de bicicleta pelo Rio Grande do Sul e pelo Uruguai.
Sabendo que somente 85 km me separavam da chegada em casa, comentava com todos que encontrava sobre minha percorrida, sobre o sucesso da empreitada até então, sobre a expectativa de chegar ainda meia-tarde em Montenegro.
Claro que estava alegre! Como não? Reencontrar minha esposa Mariloy, meus três filhos Manoela, Rafaela e Paulo Augusto, meus pais e irmãos, sogra, cunhados, sobrinhos, amigos, conterrâneos, conhecidos, depois de 24 dias longe, me fez pedalar forte e ritmado pela BR-116.
Mas não posso negar uma certa tristeza... Foram tantos novos lugares, tantas novas pessoas, tantos novos costumes durante esses dias, que experimentei momentaneamente um sentimento de vazio, à medida que me aproximava do meu destino. Ééé, a estrada faz dessas...
Porto Alegre! Vista de tantas pontes!





 

Ainda em Guaíba, hoje bem cedo, me dei ao trabalho de lavar a bicicleta e os alforjes, só para chegar em Montenegro com tudo limpo e organizado. Mas resolveu chover, a BR-386 sem acostamento e cheia de barro na beira da rodovia, em minutos a bicicleta estava suja novamente. Deixei. Pelo jeito, era para chegar em casa assim.
E quando vi, na entrada do Pólo Petroquímico, a placa indicando o sentido a Montenegro, deu uma baita emoção! Quantas vezes já pedalei nesse trecho, ora sozinho, ora com meu filho, ora com amigos, contornando o Pólo pelo anel viário, em passeios de 60 km, nos finais de semana! Estava realmente próximo.


Durante o trajeto, muitos montenegrinos que passavam de carro buzinaram, outros pararam para me dar um abraço (Fernando Orth, Beto Oliveira [da Herbalife], Paulo Lutckmeier, Henrique Mateus Machado) e, a 5 km da cidade, já na RS-124, uma Palio Weekend branca muito conhecida - a minha - parou no acostamento do outro lado. Desceram minha esposa Mariloy e minha filha Rafaela. Que momento!
Logo em seguida chegaram minha filha Manoela e meu genro Rodrigo, noutro carro. E, 1 km mais à frente, apareceu meu filho Paulo Augusto, de bicicleta. Estava vindo me buscar, mesmo com o pulso fissurado ainda doendo do tombo do cavalo no mês passado (e que o impossibilitou de viajar comigo). Todos reunidos, na beira da estrada!
Aí, já não deu mais para fotografar. Eles que se encarregaram de registrar a chegada, e à noite já postaram nos seus facebooks as fotos.
E assim foi: às 17h, após 2.155 km, estacionei a bicicleta na garagem da minha casa, em Montenegro, finalizando mais essa incrível aventura que, como o título do blog anuncia, congregou esporte, turismo, viagem, antropologia, ecologia, férias.
Em casa, missão cumprida. E eu muito feliz!

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Deixo aqui registrado meu agradecimento a todos que tiveram a paciência de ler as postagens nesses 24 dias de percorrida. Fui honrado com a companhia de vocês, e contei com esse apoio do qual não me sinto merecedor, mas que fez toda a diferença nos momentos de solidão, de cansaço, de calor. E que também me motivou a todos os dias contar as aventuras e desventuras dessa travessia pelo RS e pelo Uruguai, para compartilhar com tantos familiares, amigos, conhecidos ou curiosos o meu dia-a-dia na estrada.
Obrigado, obrigado, obrigado. 

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Transcrevo abaixo, para quem se interessar, o endereço dos outros blogs que já redigi, referentes a viagens de bicicleta:
2010 - viagem ao Chile, 2.392 km percorridos:
- http://viagemaochiledebicicleta.blogspot.com.br/
2012 - viagem à serra de Santa Catarina, 892 km percorridos:
- http://norastrodocorvobranco.blogspot.com.br/
2013 - viagem pela beira da praia no Rio Grande do Sul, 449 km percorridos:
- http://litoralgauchodebicicleta.blogspot.com.br/ 

BAIT'ABRAÇO!!!

sábado, 25 de janeiro de 2014

23º dia - 24.01.2014 - A maior pedalada: 150 km

Buenas, pessoal!
Já estou bem perto de casa!
Hoje, depois de passar o dia inteirinho na estrada - das 08h às 22h - venci a maior distância num só dia desde quando saí em viagem, no último dia 02: 150 km entre São Lourenço do Sul e Guaíba. Estou acomodado na Pousada Guaíba, de onde amanhã de manhã parto para cumprir o último trecho desta fantástica percorrida, de ida e volta ao Uruguai de bicicleta.
E no dia de hoje, vencendo sistematicamente os quilômetros, ora nas planícies tapadas de arroz, ora nas coxilhas de campos a perder de vista, bati na casa dos 2.000 km já rodados. Merece a foto!


Na saída do hotel, não reencontrei meus novos amigos, os norte-americanos Bratt e Sarah. Lerão o blog certamente, então registro meus votos de uma estada proveitosa no Brasil. Merecem!
E pra quem gosta de praia de água doce, o destino é esse que percorri ontem e hoje: Laranjal, São Lourenço do Sul, Arambaré, Tapes, Barra do Ribeiro, todos cidades ou povoados à beira da Lagoa dos Patos. A própria BR-116 propagandeia as belezas desses locais.


Cheguei, em Guaíba, à noite, um verdadeiro croquete: besuntado de protetor solar, mas suportando mais um dia de muito calor, suando cântaros, a polvadeira das obras da rodovia deixando o entorno marrom, dá para se imaginar o resultado... encardiu tudo: roupa, alforjes, capacete. E eu.
Mas ainda assim, em meio ao caos protagonizado pelas retroescavadeiras, patrolas e caçambas, um olhar mais atento pode descobrir beleza. A mamãe natureza sempre dá um jeito.


Aí, o povo de Sertão Santana resolveu fechar a rodovia - hoje! Sexta-feira, à tardinha, todo mundo querendo chegar logo em casa - para protestar pelo asfalto prometido há mais de 20 anos, promessa ainda não cumprida. Quilômetros de engarramento em ambos os sentidos. Ninguém passava. Ôps, quero dizer, eu passei. Fui pelo acostamento, cheguei no povaréu, alguém quis me barrar mas uma mulher mais velha, gordinha, baixinha, de boné, gritou: "Esse aí pode deixar passar!". Autorizado pela liderança, bah, fiquei me sentindo! Acabei desfilando o camelão e este bonitume para a fila de veículos do outro lado por quilômetros. Mazah!!!
Mas minha esnobada cobrou o preço: 20 km à frente furou a câmara do pneu traseiro. Um arame. Bem feito... rsrsrs... quis me aparecer...
Mais montenegrinos na estrada: a Amanda, colega da minha filha Manoela, e a família, voltando de um passeio. Passaram por mim, me reconheceram, pararam num posto para me esperar, abraços, risadas, comentários, foto.


Foram 150 km hoje, 2.079 no total.
Amanhã, ponte móvel, ponte estaiada (1ª vez de bicicleta), Rodovia do Parque, a perigosa BR-386, RS-124 e... CASA!!!
Estou muito feliz!
Bait'abraço! 

22º dia - 23.01.2014 - Era para ser um dia monótono...

(Texto escrito num arquivo word em 23.01.2014, não publicado nesse dia por falta de sinal de internet) 

Buenas pessoal!
Ontem à tarde, enquanto "lutava" contra os motoristas e a falta de acostamento na BR-116, trecho Jaguarão/Pelotas, era monitorado à distância pelo Ebenézer Garcias - um camarada que passou de carro por mim no dia 05 de janeiro pp, próximo a Pelotas, e que, dias depois, procurando saites sobre viagens de bicicleta no Uruguai, localizou meu blog, me reconheceu como sendo aquele sujeito que ele encontrara na rodovia, e passou a se comunicar comigo.
Hoje de manhã tive a grata oportunidade de conhecê-lo pessoalmente! O cara foi no Hotel antes da minha partida, para podermos conversar um pouco. Chegou lá, claro, de bicicleta. É um apaixonado pelo ciclismo. Pedala por lugares muito interessantes, principalmente nas colônias de Pelotas, e fiquei admirado dum trabalho que faz junto com outros amigos às 6ªs à noite, de pedalar com iniciantes até a Praia do Laranjal, onde vão comer um pastel famoso que há. Que legal, compartilhar o conhecimento com quem está iniciando no esporte. Estão todos de parabéns. 
E eu ganhei mais um amigo, a quem agradeço pela preocupação que demonstrou com minha segurança naquele trecho que conhece muito bem e que sabia seria difícil.


Se eu não estivesse já "queimado" no horário para partir, certamente teríamos estendido a prosa, pois o cara é mecânico de bicicleta de profissão, curte pedaladas, sabe o que fala. Foi um barato conhecê-lo.
Mas era necessário girar o pedivela rumo à casa.
Eu imaginei realmente um dia monótono na estrada. Obras em toda a extensão da BR-116, barulho, poeira, tranqueira, acostamento estoporado, vento contra, calor, caminhão, caminhão, caminhão, e eu querendo chegar em Cristal ou no mínimo no Posto Coqueiro em São Lourenço do Sul, uns 70 km mais à frente.
No almoço, num restaurante de beira de estrada, finalmente encontrei feijão preto - do qual andava com saudades -, que serviu de molho para o espaguete. Foi uma senhora refeição.
À meia-tarde cheguei no trevo de São Lourenço do Sul. Até a algumas semanas atrás tinha grandes amigos residindo nessa cidade - a Carla, seu esposo Ilton e a pequena Manuela - mas, com sua recente mudança para Porto Alegre, não vi motivos para entrar na cidade. Toca fazer pose na rótula só para registro da passagem por lá.


Estava nessa função quando avistei ao longe dois cicloturistas vindo da mesma direção que eu. Meu dia na estrada sofreu uma guinada de 180°!


São eles a Sarah e o Brett, norte-americanos que estão dando a volta ao mundo sobre bicicletas. 
Foi uma aproximação instantânea! Eu, louco por companhia, eles por informação.
Conversamos durante mais de 1 hora no trevo. Para minha surpresa, a Sarah fala um espanhol espantosamente correto, pausado, claro. Foi muito fácil me comunicar com ela. Já o Brett arranhava o espanhol, quando não lembrava da palavra resmungava em inglês e a Sarah traduzia.
Ela é doutoranda em Ciência Política e sua viagem está sendo financiada por uma universidade da Filadélfia, de onde são naturais e onde ela estuda. A tese que ela defenderá tem a ver com o Direito das Sociedades.
Ele é professor de artes, escultor ceramista, e, por dar aula na mesma universidade, pôde vir também. Já estiveram, entre outros países, na Tailândia, na Indonésia, na Tunísia, na Argentina, no Uruguai e, agora, no Brasil. 
Foi no Uruguai que compraram essas bicicletas aro 20" com as quais viajam. Vão devagar, quase parando. 50 km por dia. 
E ávidos por informações do Brasil! Fui torpedeado de perguntas, ainda mais porque não falam português. Bã, que coragem a deles!
Tiramos uma foto juntos porque eu disse que seguiria na rodovia, e eles não sabiam se iam acampar na beira da Lagoa dos Patos ou seguir viagem. 


Quando já estava alojado no Hotel Coqueiro, indo guardar minha bicicleta, quem aparece? Os dois! Fiquei muito contente (e acho que eles também).
Combinamos jantar juntos e olhem, vou dizer uma coisa, foi uma das conversas mais interessantes que tive em toda a viagem.
Esses dois malucos são cultos, despojados, humildes, curiosos, e também têm a consciência de que são forasteiros, por isso procuram saber como tudo funciona porque querem respeitar as regras do lugar onde estão. Não demonstraram temor algum e me vi obrigado a alertá-los para tomarem cuidado com as bicicletas, com dinheiro muito à vista, com documentos. Sabe-se lá o que lhes pode acontecer por causa de uma bicicleta diferente, se aqui no Brasil matam por um boné...


Levei o mate e eles, que já tinham experimentado a bebida no Uruguai, me fizeram companhia no amargo.
Tarde da noite nos despedimos. Pela segunda vez. Não sei se amanhã os verei, embora tenhamos combinado sair na mesma hora. Mas eles sabem que meu ritmo é mais forte, não viajaremos juntos.
Sorte a eles! São de um destemor assombroso. 
65 km pedalados hoje, 1.929 km no total.
Bait'abraço!

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

21º dia - 22.01.2014 - Já saudades do Uruguai?

Buenas, pessoal!
Cometi um descuido no planejamento do dia de hoje que me custou caro. Mais uma vez provou-se que a execução de um projeto pode não sair a contento por fatores estranhos ou imprevistos. Mas o planejamento tem que ser impecável, inclusive quanto à possibilidade de ter que ser executado um plano B. 
Meu erro foi não considerar os 140 km que me separavam de onde estava - Rio Branco, ainda no Uruguai - a onde pretendia chegar hoje, Pelotas. Essa distância deveria ter me feito sair às 07h, a exemplo de ontem, para ter o dia inteiro à disposição. Mas não. Só saí da Pousada às 10h. Me danei.

Rio Branco é mais limpa e organizada que Chuy. E os free-shops são mais novos e modernos. É uma legião de brasileiros comprando.
E essa a Ponte Mauá, que une os dois países divididos pelo Río Branco.


Eu bem no meio do rio!

Jaguarão, cidade antiga e que cresceu subindo a coxilha a partir do rio. Tem um belo cais.



Logo depois estava na BR-116. Aí começou meu martírio.
O acostamento simplesmente não existe! É só pedra solta ou grama. Foram praticamente 120 km disputando espaço com carros, caminhões e ônibus numa rodovia estreita, com intenso fluxo, e com motoristas apressados, inconsequentes e mal-educados. Brasileiros, óbvio.
Pra piorar, há um degrau da pista de rolamento para a grama, o que me impossibilitava de descer a todo momento. 



Recebi centenas de buzinadas ostensivas, com a mensagem subliminar "sai da faixa, ô trouxa!". Ah, não tinha dúvida. Respondia: "Quer que eu ande aonde, ô babaca?" 
Foi um dia estressante. E me deu uma saudade inesperada e louca do Uruguai, dos seus motoristas educados, pacientes e atenciosos. Não pensei que seria tão imediata.
Pior: me apercebi quão mau motorista sou também, sempre com pressa, dirigindo competitivamente e não preventivamente, igual a essas antas que passavam por mim buzinando e querendo que eu rodasse na grama esburacada. Aprendi uma grande lição hoje.
E as capas na bicicleta se explicam: peguei chuva por mais de duas horas, logo depois da minha saída. Com a pele mais sensível por causa da intensa umidade, fiquei assado nas virilhas, devido à fricção com o banco. Como ficar de bom-humor assim? Santo hypoglos, rsrsrs...

Duas alegrias da estrada:
Uma delas foi encontrar meus amigos Camargo e Koka, montenegrinos, com os filhos (o guri foi quem tirou a foto), que quando passaram por mim me reconheceram e pararam alguns metros à frente. Que legal rever gente conhecida tão longe de casa!


Outra foi uma fonte d'água no meio do mato, numa das paradas que fiz para descansar. É ouro!!!


Mas as horas foram passando, o atraso da manhã cobrando o preço, percebi que não conseguiria fazer os 140 km previstos. 
Escurecendo já, passei pela entrada de Pedro Osório, mas vi que a cidade ficava 12 km para dentro, à esquerda. Mais 8 km e eu chegaria no pedágio, onde cogitei de montar minha barraca e pernoitar. Decidi seguir em frente.
Era noite escura, 21h30min, quando avistei a placa de 1 km do pedágio. Acho que nunca desejei tanto ver um anúncio desses na minha frente... eheheh...


Falei com a líder do posto e obviamente não me deixou montar acampamento ali. É uma área de segurança, e embora percebesse que eu não representava um "perigo", não quis descumprir as ordens superiores.
Pior foi dizer-me que à frente a rodovia estava em obras e o "acostamento" não existia mais, por causa da duplicação do trecho.
Imagina! 10 da noite, 17 km ainda até Pelotas - naquelas circunstâncias 1h30min a mais de pedalada -, 118 km já percorridos, a sugestão da líder do posto foi me levar de carona até um hotel.
Putz! Outra carona?
Ela mesmo, todavia, me convenceu a aceitar: noite sem lua, um breu, eu exaurido, a rodovia sem acostamento, muitos motoristas (brasileiros, urghhh!!!) ainda na estrada, obras à frente... Topei.
E aí foi uma risada geral no posto! A ambulância do resgate já havia levado todo tipo de gente acidentada, agora, uma bicicleta pesadona no espaço da maca, isso era novidade. rsrsrs... Mereceu o divertido registro.



Em pouco mais de 10 minutos vencemos a distância que separa o Pedágio do hotel onde me hospedei.
Já foram 1.864 km percorridos. E mais 35 km de carona (com os 17 de hoje). Coincidência: quando fui ao Chile de bicicleta em 2010 (http://viagemaochiledebicicleta.blogspot.com.br/), também foram 35 km de carona...
Bait'abraço!

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

20º dia - 21.01.2014 - Na porteira da querência gaúcha!

Buenas, pessoal!
Ontem à noite, no hotel em Treinta y Tres, pensei muito em como seria o dia de hoje. Na TV anunciavam vento norte de intensidade "moderada" - queriam dizer, VENTO FORTE contrário a mim, lógico -, temperatura na casa dos 40°C, uma distância considerável (130 km) e muito pouco recurso na estrada.
Contava com uma bicicleta revisada, solta das patas, a insuperável estratégia de pedalar 5 km e parar para descansar e relaxar a musculatura, um bom estoque de água e algum mantimento básico - atum, mariola de banana, barras de cereal.
Acordei às 06h, o vento velho fazendo barulho nas árvores. Seria realmente um dia comprido, pensei.
Bom, montei a bagagem na bicicleta, tomei um belo café com bastante suco de laranja (vitamina e glicose) e às 07h30min peguei a estrada, rumo nordeste.
O impacto do vento norte batendo em diagonal na bicicleta foi instantâneo. Calma, eu me dizia, são só 130 quilômetros... rsrsrs... Me programei para pedalar das 07h30min às 13h, almoçar em Vergara, 55 km à frente (sem ter certeza de que, nesse minúsculo pueblo [vilarejo] encontraria restaurante), retomar a pedalada às 14h30min e chegar em Rio Branco às 22h, ou seja, 13 horas de estrada numa média de 10 km/h.
Esse era o vento norte que eu enfrentava:


Olhem que para um eucalipto enorme se contorcer assim...
Mas era o que tinha para hoje.
E vá banhos rápidos de sangas e arroios para amenizar o calor. Nesse aspecto, o achado do dia foi um açude, escavado na rocha, com águas muito limpas mas escuras. Quando o vi, imaginei que seria muito profundo, pois enxergava as pedras nas paredes do buraco mas não o leito, tampouco havia grama boieira. Entrei agarrado às pedras para fazer um reconhecimento. Mergulhei de pé e em nenhuma vez toquei o fundo. Feito!!! Dei uns 10 bicos n'água!



Felizmente, havia almoço em Vergara. Aquela pepsi gelada foi supimpa.
E fiquei feliz em encontrar, lá pela metade da minha percorrida, a primeira placa indicativa da distância que me separava de Porto Alegre naquele local. Estou chegando!


De repente, aquela famosa nuvem negra que todos os finais de tarde tem dado o ar da graça se formou novamente. Mas desta vez atrás de mim. O céu escureceu, raios caíam ao longe, sabia que, desta vez, não escaparia do temporal.
E aí o vento mudou: começou a soprar na direção que eu estava indo. As rajadas foram aumentando de intensidade, coloquei rapidamente a capa dos alforjes, liguei farol e sinalizador, e apertei o passo.
O terreno onde eu pedalava quando o temporal de armou era relativamente plano, suaves colinas. Com o vento soprando de trás de mim, os alforjes acabaram funcionando como uma vela de barco. Pedalava a 35 km/h e sentia como se alguém estivesse empurrando a bicicleta. Somente a 45km/h "anulei" a velocidade do vento. Ah, parei de pedalar! E por causa da topografia regular, a bicicleta literalmente foi carregada pela ventania por quase 1 hora. Fiz mais de 30 km praticamente sem pedalar,  rindo faceiro do inusitado. Creiam-me, o vento era tão intenso e regular que nem nas subidas precisava pedalar.
Foi   e s p e t a c u l a r !   Cheguei a cogitar de parar e tirar uma foto, eu a 45 km/h, apreciando a paisagem e rindo sozinho... Mas, quer saber? Que foto que nada, vou é aproveitar que uma ajuda assim não é sempre! E curti o momento.
Aí veio a chuva, com toda a força. Rodei mais 10 km debaixo d'água. Mas meu destino aproximou-se rapidamente, muito antes do que eu esperava. Cheguei em Rio Branco às 18h30min. Para quem planejara pedalar até às 22h, foi "lôco de bom".
Me alojei numa ótima pousada chamada Puerto Montt. Quando a dona da pousada perguntou se eu ia pagar em pesos ou reais, sorri: estou em casa!
Pouco antes de me deitar, ainda chovia forte. Será que amanhã terei chuva também, no caminho para Pelotas?


Hoje foram 125 km percorridos, 1.749 no total.  O pneu traseiro denuncia toda essa quilometragem. Hoje, ao lubrificar a corrente, olhei-o com vagar. Vai pra banha logo...


Bait'abraço!

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

19º dia - 20.01.2014 - Pit stop

Buenas, pessoal!
Nos últimos dias a bicicleta vinha "reclamando" do esforço a que estava sujeita. Tracionada com vigor de manhã à noite, muitas vezes por dez horas seguidas, passou a apresentar alguns barulhos estranhos. Nada de anormal, apenas incomodativos. 
E nada pior do que pedalar ouvindo um irritante "roac-roac" em alguma víscera da bicicleta onde não se consegue chegar com a chave de roda ou com o óleo lubrificante.
Por isso hoje resolvi "afiar o machado", como se diz na gíria, quero dizer, aprontá-la para a parte final desta viagem: fiz um pit stop na cidade de Treinta Y Tres. Pedalei apenas 30 km, de Varela até aqui - onde me hospedei no Hotel Treinta y Tres, por acaso 3 estrelas (é sério, não é para curtir com o nº 3) - e levei a bicicleta ao revendedor local da Trek por indicação da recepcionista do Hotel - que também é ciclista, pratica downhill (descida com obstáculos, uma modalidade tri-difícil, me admirei de uma guria tão jovem participar).
O mecânico Enrique se puxou! Desmontou toda a caixa de centro, reengraxou os rolimãs, reapertou o eixo, o pedivela, tirou uma folga (o que estava gerando o "roac-roac" de que falei antes), consertou o freio dianteiro - de cujo suporte a solda havia quebrado quando passei pela Estação Ecológica do Taim -, acrescentou esferas no cubo dianteiro, limpou a bicicleta... E sempre muito curioso, perguntando da viagem, das dificuldades, do caminho...
A cada cliente que chegava mostrava a bicicleta. Não falava nada: só apontava para ela, com cara de "olha esse camelo!". Me divertia com a cara de espanto das pessoas, eheheheh...



Essa função toda aconteceu à tarde, porque o taller (oficina) só abre às 15h. Antes disso é sesta, nem pensar.
Também por indicação da guria do Hotel fui almoçar num restaurante próximo. Olhei o cardápio, vi o nome costilla riojana, pensei: que diabos será isso? Paguei prá ver. 
Bã!


Chuleta assada, cebola, tomate, pimentão, presunto, queijo, dois ovos fritos, purê de batata, um limãozinho para temperar e pão com uma meleca para passar em cima. Bom demais! Até porque a carne no Uruguai é sempre muito macia. Deu apetite?
No final de tarde, fechou o tempo de novo, prenunciando chuva. Me lembrei de uma música gauchesca que começa assim: "O tempo se armou de fato / lá pros lados do Uruguai / vai chover barbaridade / que sem poncho ninguém sai...". Pura poesia. E saudade da querência também.


No fim, alarme falso. Nem uma gota d'água. E o entardecer no Uruguai me presentou com mais um show de matizes multicores.


Já são 1.623 km desde minha saída de Montenegro, em 19 dias pedalados.
Amanhã, uma imensa travessia: de Treinta y Tres a Rio Branco (ainda no Uruguai), 130 quilômetros no meio de absolutamente nada a não ser campo e gado. Não há um posto de combustível sequer, um restaurante, um bar, nada. Terei que madrugar, salir temprano, como se diz por aqui.
Estou feliz por já estar tão perto do Rio Grande do Sul. O Uruguai é fantástico, mas voltar pra casa não tem preço.
Obrigado a todos pelas palavras de incentivo, pela "companhia" de todos os dias, pelas mensagens no facebook, pelos comentários no blog, pela "corneta" - sempre tem! rsrsrs -, enfim, vocês não imaginam como me alegro em ler recados de pessoas tão diferentes, cada uma se manifestando do seu jeito, compartilhando sua impressão dessa percorrida solitária que estou fazendo nesta grande pampa meridional.
Bait'abraço!

18º dia - 19.01.2014 - Chuva, carona e arco-íris

Buenas, pessoal!
Começo o relato de hoje com uma constatação acerca da bagagem que levo comigo:
Devo ter escrito em algum lugar deste blog que a lista de petrechos da bagagem, entre ferramentas, acessórios da bicicleta, "kit gambiarra" (arame, braçadeiras, engasga-gato, superbonder, velcro, etc), higiene pessoal, acampamento, vestuário, lavanderia, equipamentos eletrônicos, medicamentos, alimentação, e outros, passou de 150 itens nesta viagem. Fica pesado, sem dúvida, mas a autossuficiência numa percorrida dessa envergadura - mais de 2.000 km - é fundamental.
Pois ontem à noite, quando fui desmontar a bagagem para guardá-la no hotel em que me hospedei em Minas, dei pela falta do pezinho portátil. Ficou para trás ou em San Jose de Mayo ou em San Jacinto.  O separador dos alforjes dianteiros eu mesmo deixei numa lixeira em Chuí (descobri um jeito de prendê-los diretamente no garfo e eliminei aquele peso morto), e uma toalhinha voou na descida da serra entre Encruzilhada do Sul e Canguçu, nem percebi. Três itens a menos na lista, dois por absoluta bocabertice minha...
Uma curiosidade - apenas isso - que compartilho com os leitores.

Outra constatação é com respeito aos motoristas uruguaios: são uma das maiores gratas surpresas desta viagem. Na sua grande maioria andam dentro da velocidade permitida, dão a preferência, não buzinam... tanto é assim que nestes quase 1.600 km percorridos eu passei por uma batida apenas, em Montevideo, por causa de uma obra na rodovia. Senão, estaria zerado até hoje. Muitas vezes, cruzando alguma ponte sem acostamento, lentamente por causa do peso da bicicleta, ouvia carros e até caminhões freando atrás de mim, o pisca-alerta ligado, e o motorista me escoltando até a cabeceira da ponte, sem reclamar, sem me apressar, é realmente algo digno de nota.

Bom, o meu dia:
Saí de Minas completamente "atrasado" (se bem que estou de férias, esse atraso fica por minha conta...). Passava das 09h quando ingressei na Ruta 8. Meu plano era almoçar em Mariscala, a 60 km, e pernoitar em Pirarajá, 30 km mais à frente.
O dia estava bem propício para pedalar, apesar do sol escaldante e constante. Aí, toca se refrescar nos arroios que cruzam a rodovia. Foram diversos banhos hoje. 


A imensidão do vale que percorri hoje a venci praticamente sozinho na estrada. Domingo, calor infernal desde as primeiras horas da manhã, de quando em vez cruzava um caminhão bi-trem carregando lenha.  O demais foi silêncio e solidão. Também, só maluco para estar na estrada nessas condições... 


Consegui chegar em Mariscala às 14h, e fui numa pequena padaria que há no local para almoçar. Aproveitei para descansar um pouco e escapar do sol inclemente.
Às 15h voltei a pedalar. Em menos de 2 horas chegava em Pirarajá. Quando entrei na cidade, pressenti que ali jamais haveria uma hospedagem, quanto menos um hotel. A cidade toda não é maior que o Bairro Imigração, em Montenegro! Encontrei um bar aberto, só o dono lá dentro, e quando perguntei por um lugar para pernoitar ele sorriu e me respondeu que só a 40 km dali, em Varela.
Eu já havia feito 90 km. Que decisão tomar? Montar acampamento debaixo de um cinamomo ou seguir viagem? Achei melhor prosseguir. Mas já na saída da cidade uma gigantesca nuvem crescia no horizonte, e o vento - tão generoso durante todo o dia - começou a mudar de direção.
Minha velocidade média caiu absurdamente. Já cansado, agora tendo que vencer mais 40 km, e ainda com vento contra e prenúncio de tormenta, fim de tarde, bã, vi que seria punk. 


Quando entrei na zona do temporal, tive que descer da bicicleta e empurrá-la, porque simplesmente não consegui mais pedalar, de tanto vento. Farol ligado, sinalizador traseiro ligado, alforjes encapados, olhei para o ciclocomputador: faltavam ainda 21 km!
Estava já empurrando a bicicleta por 40 minutos, mas ainda sem chuva forte, quando uma caminhonete Mahindra, com dois homens dentro, passou por mim e parou alguns metros à frente. O motorista deu de ré, e o caroneiro abriu a janela, me perguntando se eu estava com problemas. Disse-lhe que não, só que não estava conseguindo pedalar. Na hora ofereceram uma carona, na hora aceitei. Já tinha pedalado por 114 km, faltavam ainda 18 km para chegar a Varela, o dia escurecendo por causa daquela nuvem, achei prudente não arriscar o pelo na estrada naquelas circunstâncias.
Colocamos a bicicleta em cima da caçamba, onde também me acomodei, e viemos para Varela. No caminho, a chuva engrossou, mas muito menos do que eu esperara. 
O gentil proprietário da caminhonete me deixou na entrada da cidade, e vim atrás de um hotel. Tive que aguardar um pouco a recepcionista chegar - tinha ido em casa tomar banho, vê se pode... coisas do interior -, tempo suficiente para a chuva amainar e o céu proporcionar um espetacular arco-íris no horizonte. Duplo, ainda por cima! Bah, bonito demais!


Molhado, cansado, queimado, com fome, com sede, ainda tive que desmontar toda a bagagem e levá-la escada acima, porque o quarto é no segundo andar do Hotel Patron. Fiz umas 5 viagens, hehehehe...
Deu tempo ainda de descobrir que havia um gaúcho hospedado, porque vi uma motocicleta Falcon com placa de Santa Rosa estacionada na garagem. Nos encontramos no corredor, nos apresentamos, e logo descobri que o "gaúcho" é na verdade um alemão, o Thomas, que mora em Santa Rosa, e que está fazendo uma viagem de 6 meses pela América do Sul. Do Uruguai parte para a Argentina, depois Chile, Peru, Bolívia, sempre de moto. Que bárbaro!


(Me descuidei hoje, passei menos protetor do que devia, tomei um tostaço. Que babaquice.)
Aí saí para procurar algo para comer. Acabei encontrando um trailer de cachorro-quente. Li na placa: Chivitos, a $ 120 pesos (uns R$ 15,00). Pedi. Veio um munaio! E com uma carne excelente. Foi a janta, claro. 


Amanhã a pedalada será pequena, não mais do que 40 km. Chegarei em Treinta y Tres e procurarei uma oficina de bicicleta, porque apareceu um problema na caixa de centro que só com um reaperto e lubrificação não consegui resolver. Terei que desmontar o sistema para descobrir o que está provocando estalos e ringidos.
Estou chegando mais perto de casa!
Bait'abraço!